Quando você me ensinou a sonhar acordada nem me lembrei de questionar quanto tempo eu tinha de sonho.
O vento pulava a janela e deixava as cortinas soltas no trilho.
A luz do sol queria me arder, creio eu, pois não sabia de onde vinha tanto calor em mim.
E quando você me ensinou a sonhar nem me lembrei de perguntar quanto tempo eu tinha de sonho.
Se nas notas da sua canção o que me importava era a melodia que chegava ao meu coração.
Se no seu jeans rasgado o que me importava era o seu jeito de andar.
Se na sua voz rouca o que me importava era o meu nome com sabor de doce...
Se com tudo mais que me importava eu me preocupasse apenas em questionar "quanto tempo eu ainda tinha de sonho", deixaria de conhecer o gosto dos seus beijos ou não me perderia no brilho do seu olhar...
Quando você me ensinou a sonhar eu aprendi a te amar.
Mas não tive ninguém pra me ensinar o que fazer depois que passasse o tempo que eu tinha de sonho.
Hoje, como um recorte velho de jornal, eu me lembro de você. Hoje como a sombra de uma árvore, eu me lembro de você. Hoje seu nome está naquele estojo no fim da gaveta onde guardo as contas de luz que já foram pagas. Hoje você é o açúcar que já não adoça como antes. Mas ainda é aquele calo no pé. Aquele velho incomodar dos mosquitos na época de chuva.
(Sempre que eu me decepciono com aquelas novas histórias que eu tentei ensaiar pra darem certo, eu me lembro de você. Não por que eu queira sofrer novamente, mas por que na estante você tem uma plaquinha de "modelo ideal". Mas aí, vem aquela onda de sofrimento velho e batido que eu me lembro já ter superado em algum momento da vida. E percebo que tudo isso é culpa do medo da dor. E assim, me dói o medo de doer outra vez.)
Hoje você é uma espécie de inquilino que não paga o aluguel, mas ainda ocupa o espaço. O espaço de tempo do amor que eu não tinha ao acordar.
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