quarta-feira, 5 de agosto de 2009

"Eu cansei de ser assim. Não posso mais levar. Se tudo é tão ruim, por onde eu devo ir? A vida vai seguir, ninguém vai reparar. Aqui neste lugar eu acho que acabou. Mas vou cantar pra não cair, fingindo ser alguém que vive assim de bem." (O pouco que sobrou - Los Hermanos)

Uma dúvida perpetuou minha tarde. O que me dá ânimo pra vencer a luta diária que me faz almejar a felicidade como prêmio? O que me leva a crer que é possível desfazer tantos nós na garganta enquanto transformo em tabela as metas para o meu futuro? Qual o objetivo do meu foco sobre a dor?

Indagar tudo isso me levou a analisar um período comum à maioria dos seres humanos. Sabe aquela fase que vai desde a tristeza sem fim, passando pelos problemas sem solução até chegar na luta pra sair do buraco, retomar a vida, refazer planos e etc?

Nesse período é normal e, ao mesmo tempo, irritante tantas reclamações e excesso de lágrimas lançadas no caminho, nos ombros de amigos, nos posts de blog, nos e-mails... A maioria sabe que por fim tudo passará ou, ao menos, será tirada alguma lição num futuro próximo. O que não se sabe é quanto tempo o drama durará. Que marcas ele deixará dessa vez.

Por mais inteligente que sejamos, o que é o melhor a ser feito? Calar ou gritar? Fingir que nada acontece ou chamar a atenção para a dor? Esperneios e a super valorização da dor são as escolhas mais freqüentes. Uma saída mais fácil para alguns, uma única saída para muitos. Uma erupção de um vulcão. Um alívio para as emoções.

E por falar em emoções vale lembrar o quanto tudo se torna intenso nessas fases. A predileção pelos aspectos negativos, pelo o pessimismo, a comparação com histórias alheias e toda a percepção do mundo que gira ao seu redor altera de uma forma inacreditável. Em compensação são nessas fases que damos um salto gigantesco quando assunto é amadurecimento. São nessas fases que os artistas produzem suas obras mais fantásticas. É a dor fotografada, filmada, pintada com tinta óleo, cantada, recitada, interpretada, indignada. Impressa ou em melodia, no palco ou na galeria.

Mas por quê? A resposta que me vem à mente é essa intensidade toda. Um momento altamente introspectivo e pessoal que resulta numa fonte verdadeira de sentimentos. Tudo é muito real: a fraqueza é real; a solidão é real; o medo é real; a dor, em todas as suas formas, é real. Sendo assim tão verdadeiro esse período torna-se um marco zero. Algo inesquecível e totalmente necessário. Além de ser um combustível para questionamentos e indagações que perpetuarão por vários outros períodos como esse.

E, pelo visto, por várias outras tardes, como a de hoje.