quinta-feira, 29 de abril de 2010

“O nosso amor não vai olhar para trás. Desencantar, nem ser tema de livro. A vida inteira eu quis um verso simples pra transformar o que eu digo. Rimas fáceis, calafrios. Fure o dedo, faz um pacto comigo. Num segundo teu no meu... Por um segundo mais feliz!” (Mais Feliz - Dé/ Bebel Gilberto/ Cazuza)


Depois daquele papo parei para refletir que um bom filme pra mim está diretamente ligado ao mistério das oscilações emocionais. Momentos de tensão, roteiro interessante, expectativa do final. O filme precisa fascinar, fisgar a atenção de alguma maneira. Vale emocionar, ousar , causar indignações, empatia e até mesmo contradições com o que sentimos, pensamos e agimos.

Nossa história cinematográfica também é assim. Somos mutantes de nós mesmos. Cada um com uma bagagem de emoção. Com um olhar especial sobre a vida e tudo mais que nos cerca. Nós e nossas maneiras de esperar pelo futuro. Expectativas de bolso e de alma. As nossas diferenças, então, se rendem ao fato de estarmos unidos numa mesma cena.

Somos personagens reais que decoram seus textos secretos e não sabem como funciona o roteiro como um todo. Só descobrimos aos poucos quando cada um entrega de bandeja sua fala em direção ao outro. E eu só conheço o que você mostra. E brinco de supor o que se passa por trás do seu ato de mostrar. É ali que, de fato, faço a linha imaginária do limite até onde eu posso ir. Depois desse ponto é você e seu papel.

Meu texto é solto nas páginas em branco e minhas falas escorrem por minha boca sem que eu consiga prendê-las. Mesmo assim decoro cada uma delas e repito, ecôo, lanço por diversas vezes em nossa cena. Mas há de ter um preço. Um arrependimento arredio tira o decoro das verdades que profiro. E as palavras se transformam em algo comum , perdidas no making of de nós dois.

E eu sinceramente não sei aonde chega a parte bonita que eu mostro a você. Não sei como você assiste a esse filme. Não sei se faz seu gênero ou se a minha atuação lhe agrada. Mas o que você me mostra é o que eu assisto, gravo e acredito. Seu texto vira poesia em mim. Decoro suas falas e dou a elas a mesma beleza com que enfeito as minhas.

Mas nesse ensaio dependo de suas deixas para que meu texto, por mais belo que seja, possa fazer algum sentido nesse roteiro de amor.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

"Cada canção de amor abre a ferida, não vê fim. Cada fração da dor, agora é chuva, cai em mim. Mas tudo vai passar, como tudo passará." (Amor Em Vão - Os Paralamas Do Sucesso)


Quando você me ensinou a sonhar acordada nem me lembrei de questionar quanto tempo eu tinha de sonho.
O vento pulava a janela e deixava as cortinas soltas no trilho.
A luz do sol queria me arder, creio eu, pois não sabia de onde vinha tanto calor em mim.
E quando você me ensinou a sonhar nem me lembrei de perguntar quanto tempo eu tinha de sonho.
Se nas notas da sua canção o que me importava era a melodia que chegava ao meu coração.
Se no seu jeans rasgado o que me importava era o seu jeito de andar.
Se na sua voz rouca o que me importava era o meu nome com sabor de doce...
Se com tudo mais que me importava eu me preocupasse apenas em questionar "quanto tempo eu ainda tinha de sonho", deixaria de conhecer o gosto dos seus beijos ou não me perderia no brilho do seu olhar...

Quando você me ensinou a sonhar eu aprendi a te amar.

Mas não tive ninguém pra me ensinar o que fazer depois que passasse o tempo que eu tinha de sonho.

Hoje, como um recorte velho de jornal, eu me lembro de você. Hoje como a sombra de uma árvore, eu me lembro de você. Hoje seu nome está naquele estojo no fim da gaveta onde guardo as contas de luz que já foram pagas. Hoje você é o açúcar que já não adoça como antes. Mas ainda é aquele calo no pé. Aquele velho incomodar dos mosquitos na época de chuva.

(Sempre que eu me decepciono com aquelas novas histórias que eu tentei ensaiar pra darem certo, eu me lembro de você. Não por que eu queira sofrer novamente, mas por que na estante você tem uma plaquinha de "modelo ideal". Mas aí, vem aquela onda de sofrimento velho e batido que eu me lembro já ter superado em algum momento da vida. E percebo que tudo isso é culpa do medo da dor. E assim, me dói o medo de doer outra vez.)

Hoje você é uma espécie de inquilino que não paga o aluguel, mas ainda ocupa o espaço. O espaço de tempo do amor que eu não tinha ao acordar.

"Nada a temer, senão o correr da luta. Nada a fazer, senão esquecer o medo. Abrir o peito à força numa procura. Fugir das armadilhas da mata escura... Longe se vai, sonhando demais, mas onde se chega assim? Vou descobrir o que me faz sentir: Eu caçador de mim. " (Caçador de Mim - Luiz Carlos Sá - Sérgio Magrão)



Como vocês podem observar, ela está em cima da linha.
A linha é reta, prática.
A linha é capaz de levá-la de um ponto a outro.
Mas ela está em cima da linha.
E o estar "em cima da linha" conclui muita coisa. Principalmente desse ângulo que eu a enxergo.
Eu sei que ela até tenta dar uns passos. Para frente. Para trás. Mas sair da linha? Ah! Isso ela não faz.
É tão mais cômodo estar ali. Não tem risco. Não tem medo. Não tem dúvida. É só estar ali e dar uns passos. Para frente. Para trás.
Mas a pergunta é: De que ponto ela quer sair? Em que ponto ela quer chegar? Será essa a linha certa?
Ela olha ao redor e a geometria seduz. Desde as paralelas até outras formas, outros pontos, outras linhas que não são retas. Que tal uma curva? Que tal um outro plano cartesiano?
Que tal o menos prático, mas que aguce um pouco mais a sua inteligência?
Ela está em cima da linha e precisa unir os pontos, aplicar fórmulas pra resolver sua matemática.
E sem a ajuda do sr. Pitágoras.
Ela sente medo. Sair da sua lógica a faz retrair.
E o que ela faz é curvar essa linha e andar em círculos.
E realmente o que ela não queria era fugir da exatidão.
Mas apenas buscar a sua própria geometria.


Preciso sair contra o vento. Não quero deixar pista. Não quero levar na bagagem nem passado, nem presente. Não quero saber meu nome, muito menos sobrenome... Quero novos disfarces.... Quero um outro lugar... Quero montar um velho quebra-cabeça com novas peças... Preciso recomeçar de um ponto em que eu não parei!