sábado, 28 de julho de 2012

Um dia, ao fim de um longo dia de trabalho, eu e a amiga do blog Belas Bagatelas conversamos sobre as coisas do coração. Eu estava com o peito machucado e cansado, mas ela foi lá e traduziu em poesia os meus murmúrios de amor. Naquela noite a minha dor ficou ali, naquelas linhas e eu dormi em paz:


Apego

Para Jaqueline

O problema já não é aceitar que vai passar. O problema agora é aceitar que, passando, leve consigo tanta coisa importante. Falo coisa, mas quero dizer pedaço. Falo pedaço, mas quero dizer pele. E alma. Tudo isso passa e a gente fica. Somos cada vez menos nossos, cada vez menos inteiros e cada vez mais dispersos. Somos parte de um todo que já não se reconhece. Aportamos em mundos de onde não soubemos mais voltar – ou, se voltamos, deixamos lá qualquer coisa que não é coisa e também não é só pele e é muito maior que a alma. Recontamos essas histórias na tentativa de reviver e relembrar o que é ser inteiro e, mais que isso, na tentativa de entender porque ficamos, quando todo mundo e o mundo inteiro parecem ir, quando essas mesmas histórias que contamos viram fotos desbotadas escondidas em baús de outras memórias, que vez ou outra se lembram, que vez ou outra notam que essas fotos e lembranças estão cada vez menos nítidas. E é aí onde, se apertar, eu grito. Porque ficando, mesmo que na incompletude, se tem o todo na memória. O que dói não é não ser inteira. O que dói é a lembrança de já ter sido e não ser mais. E repito, dizendo agora de outro jeito: o ruim do momento que passa é o que ele leva da gente, mesmo somando tudo aquilo que ele traz. Um pouco da gente vai ficando. Sim, um pouco sempre fica: do gesto, do cheiro, dos pelos. Fica a marca dos dedos na pele, a cor dos olhos. Vou embora com as suas pernas, você fica com os meus olhos. Nem nos damos conta.




Eu e a bela Marília :)

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Essa é a hora que o sono não vem e eu me lembro de como era bom receber sua ligação no fim da noite, antes de dormir, e ficar falando até o sono chegar. Lentamente a voz ia sumindo e, quase cochichando, a gente dizia "te amo". Era bom te amar baixinho e adormecer com o coração aquecido e em paz.

segunda-feira, 23 de julho de 2012


Tudo que ela queria naquele momento era guardar as tantas observações fantásticas e banais sobre aquela segunda-feira, com a certeza de que, no fim do dia, ele pudesse atender sua ligação, com um entusiasmo sem fim, querendo saber como foi o seu dia.

Tudo que ela queria era colocar em prática aquela idéia do recorte das frases que mais usavam e aquela outra idéia maluca de filmar os lugares por onde passaram, acompanhado das tantas trilhas sonoras que tiveram.

Tudo que ela queria era que essa dorzinha de uma úlcera mal curada fosse um motivo pra ele vir buscá-la depois do trabalho, com um beijinho doce em sua testa, ficando ao seu lado no hospital enquanto ela tomava Antak na veia.

Tudo que ela queria era aquele cafuné nas costas que só ele sabia fazer. Aquele olhar sério enquanto ele dirigia e ela se esparramava em seu ombro direito. Aquela risada gostosa que já emendava com um abraço apertado. Aquele perfume.

Tudo que ela queria era ainda poder ter a companhia dele por perto, escutá-lo tocar no violão aquela canção que os equalizava numa freqüência que só os dois sabiam.

Tudo que ela queria era ter se dado conta. E em tempo. Era ter compreendido antes aquela forma, meio sem jeito e destrambelhado, de amar. Ter expressado antes, o que ficou engasgado em sua garganta nesses 1 ano e 9 meses depois.

Tudo que ela queria era que os anos não tivessem passado tão lentamente sem apagá-lo, enfim, de dentro dela.

Tudo que ela queria era aceitar os novos motivos que ele tem pra ser feliz, o novo amor que o preenche de uma forma tão bonita e que ela não se sentisse menos importante por não ter conseguido fazer com que aquela história rendesse até o tal "pra sempre".

Tudo que ela queria era entender por que, afinal, não esquecia aquele moço? Por mais que o tempo passasse, outras pessoas em seu caminho cruzassem, suas maneiras de ver o mundo mudassem... Nada arrancava dela esse vazio maluco, esse doer quando seu corpo teimava em respirar e seguir em frente.

Teria sido sua alma condenada a tal sofrimento? Ela se perguntava por não compreender esse eterno ciclo que culminava em voltas e voltas, mas findava no mesmo lugar de partida.

Quando eu ganhei aqueles ingressos que eu tanto queria, onde você estava?
Quando a chuva foi mais forte que a informação da meteorologia e me fez ficar trancada naquele quarto, escutando Janis Joplin no último volume... Onde você estava?
Quando eu passei a noite naquele hospital ou quando tive que enfrentar aquela reunião com os professores do meu irmão, me diga: onde você estava?
Quando os novos cachorros chegaram e quando eu fui à minha primeira sessão de terapia, onde você estava?
Quando eu bebi mais do que devia e andei sem rumo pelas ruas... Eu não sabia onde você estava.
Quando eu chorei, de joelhos, naquela igreja, clamando aos céus por piedade... Onde você estava?
Quando eu comprei essa blusa, essa calça, aquele colar e aqueles sonhos novos... Por favor, onde você estava?
Quando meus cabelos foram cortados e pintados dessas tantas cores, onde você estava?
Quando me iludiram, me magoaram, me usaram e me ensinaram essa realidade dura... Onde diabos você estava?
E quando eu conquistei? Quando eu acertei? Quando eu acreditei? Quando eu venci?
Onde Você Estava?
A verdade é que agora eu quero saber onde você está.
Agora que a solidão me faz companhia...
Eu PRECISO saber!
Essa questão a qual era tão indiferente, me consome de forma voraz.
Dia após dia.
E onde quer que você esteja...
Poderia estar pensando em mim...
E planejando alguma forma de me encontrar. Onde você está?
"Nada ficou no lugar. Eu quero quebrar essas xícaras. Eu vou enganar o diabo. Eu quero acordar sua família... Eu vou escrever no seu muro e violentar o seu gosto. Eu quero roubar no seu jogo. Eu já arranhei os seus discos..."



O que eu não suporto é essa situação!
Espera aí! Pra quê você teve que aparecer nessa historinha que já não estava das melhores?
Olha... Sinceramente eu não consigo entender qual a sua intenção de surgir daquela forma tão desconcertante, tão cheio de coincidências e maestria, pra me assustar daquele jeito?
Eu não estava esperando.
E então o que você me diz dessa moça que aqui se apresenta?
Ela não tinha combustível pra chegar até o fim.
E agora?
Onde ela irá buscar ajuda?
Você é um imprestável que a largou no meio do nada, com destino a lugar nenhum.
E eu te odeio por ter transformado tanta esperança em um pó miserável, repleto de pena e risadas que ecoam a quilômetros de distância.
E eu te odeio por você ter vários rostos e disfarces, por ter tantos nomes e identidades, por ser tantas falsas metades.
Eu te odeio por tamanha confusão que és capaz de provocar, seja em vida real ou imaginária, me fazendo refém sanguinária de um crime sem culpa ou perdão.
Eu te odeio por querer te amar todas as vezes que você aparece, novo ou de novo, levando meus suspiros, renovando meus medos, açoitando-me com carinho, prometendo o que não cumpres, e indo embora como todos os outros e por todas as vezes.
Nada fica. Nada vinga. Nada cresce. E nada acaba de fato.
Sempre fica o resto.
O maldito resto de tudo que nada foi.

"(...) Que é pra ver se você voltaQue é pra ver se você vemQue é pra ver se você olha pra mim" (Mentiras - Adriana Calcanhotto)