sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013


"Quem é você?
Que se esconde,
atrás de um nome qualquer,
Não aparece pra mim,
Estende a mão,
Trazendo a chuva,
Tocando o som do trovão,
será que vamos saber?"

(Pouca Vogal - Música Inédita)

Não se foi um acessório para roupa ficar completa. O brinco pode não ter caído tão bem e a sensação de vazio pode ter aguçado um pouco além.

Às vezes pode ter sido o fato de eu não ter comido nada antes de sair de casa. O vazio poderia se chamar fome e me deixar assim com essa aparência abatida.

Se bem que agora estou me dando conta que esqueci a agenda em cima da cama. Quando isso me acontece fico totalmente perdida e insegura com relação ao tempo, seja ele presente, passado ou futuro.

Pode ser também a falta de sol. Os dias cinza clamam pelo brilho solar para reavivar as cores dos gramados, do céu, das flores. Quiçá do meu olhar que teima em ficar mais bonito nas tardes ensolaradas.

Mas hoje faltou algo que ainda não sei dizer...

Seria a colega de trabalho que saiu de férias e me deixou sozinha?

Ou foi o dinheiro no banco que encolheu estupidamente e não me permitiu comprar uns sonhos novos?

Não duvidaria se essa sensação fosse ainda proveniente da falta dos abraços apertados das comemorações de final de ano da empresa.

Ou mesmo a falta da caneta azul, 
aquela de ponta fina que eu nunca mais encontrei igual, para escrever as tantas cartas que prometi enviar pelo correio um dia.

Eu só sei dizer que alguma coisa faltou.

Só não sei se foi aqui dentro ou aí fora. M
as eu posso lhe garantir que isso me deixou na beirinha de um abismo enorme, sem fundo e sem eco algum que devolvesse o meu clamor.

Pois hoje faltou alguma coisa que sucumbiu minha força e me jogou no chão.

Algo que desatou os nós de pensamentos que estavam tão amarradinhos dentro do meu peito.

Hoje faltou algum ponto, alguma oração coordenada sindética explicativa ou conclusiva, alguma expressão numérica, sei lá!

Faltou tocar alguma música que tocava no rádio todos os dias. Faltou algum tempero na comida. Faltou pagar a conta de luz?

Faltou passar o ônibus de 07h30. Faltou tomar o remédio. Faltou pentear o cabelo. Faltou beber 2 litros d'água. Faltou bater o ponto.

Acho até que o que faltou não deve ter nome, forma ou qualquer outro atributo mensurável, pois o vazio é tanto que é bem provável que o me fez falta nunca tenha existido.

Tudo isso por faltar o que eu não consigo explicar.

Mas talvez tenha faltado você.

Você que pode ser amor, felicidade, emprego novo, faculdade. Que pode ser um marido ou meu filho. Ou um cachorro vira-lata. Um felino. Você que pode ser uma nova poesia, uma canção pra mim, um acaso feliz, aquela viagem, o corpo saudável, a roupa da foto, o vídeo clipe perfeito, a recordação bonita, o mistério do futuro desvendado.

Mas eu preferiria que fosse você. Uma pessoa certa disfarçada de saudade, do que apenas “algo” ou “alguma coisa”.

Pronomes indefinidos dão lugar a um pronome de tratamento. Mas que ainda insiste no vazio por não ter um nome próprio.

Dentro de mim.



*Esse texto foi postado em 18/01/2010. 

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