domingo, 18 de março de 2012

"A solidão é fera, a solidão devora. É amiga das horas, prima-irmã do tempo. E faz nossos relógios caminharem lentos causando um descompasso no meu coração. A solidão dos astros; a solidão da lua; a solidão da noite; a solidão da rua". (Solidão - Alceu Valença)


Não importa o quanto chove lá fora e nem o quanto é difícil carregar a sacola de compras nas mãos e ter que abrir a porta ao mesmo tempo. Você está sozinha e precisa contar somente contigo. E esse "contigo" virou um companheiro constante, mas que não te ajuda a pagar as contas do aluguel. Você entra e larga as novidades do seu dia naquela prateleira alta da estante, pois lá elas ficarão protegidas até que um dia você possa dividi-las com alguém.

Você suspira. Um longo suspiro que rasga essa noite que parece não ter fim no seu contar do tempo. O vazio lhe cobre e lhe fere com um tecido áspero de uma realidade dura: A solidão. Você até que disfarça bem, mas seu espelho sabe. Sim, ele sabe que você é mais forte que ela e até se aproveita dela pra crescer um pouco mais dessa vez. Só que os livros de contos de fada e da própria história não conseguem negar o fato que a sua natureza humana não nasceu para ser só. Você pode viver sozinha, mas você não quer e isso destoa dos seus dias tão ímpares.

E esse querer não cala a tua alma? Que grita insistentemente por um outro alguém... Cadê ele? Cadê aquele alguém que também te busca e te espera? Cadê aquelas vírgulas e reticências que completam a sua poesia? Ele vaga por aí e até cruza seu caminho. Vocês já se esbarraram, aposto! Ou mesmo se falaram, mas não se identificaram ainda. A senha de acesso havia bloqueado os corações e a solidão embaçou as vistas.

Mas aquele lugar ao seu lado na janela ainda o espera. Aquela cadeira de listras azuis ainda o espera. Aquele jantar à luz de estrelas ainda o espera. E aquelas novidades que você escondeu na prateleira mais alta da estante ainda o esperam.

Mesmo que se tornem velhas. Mesmo que não façam mais sentido.

Pois um dia era pra ele que elas deveriam ser contadas.

E não para a solidão.

1 comentários:

Tininha disse...

Espero um dia encontrar a felicidade a dois...