terça-feira, 12 de março de 2013


Eu queria voz. Um pouco rouca e grossa, que combinasse com sua barba espaçada, mas que completasse substancialmente o charme de seus cabelos castanhos que insistiriam em cair sobre seus olhos. Aliás, seria mel. A cor dos olhos e o gosto dos seus beijos. A pele clara combinaria com o sorriso largo, enquanto a sua gargalhada produziria efeitos terapêuticos ao ecoar em mim.

Eu queria braços fortes para me carregar em dias de sono e me abraçar loucamente quando fruto da saudade. Das suas mãos emanaria o carinho perfeito para tardes chuvosas e aparariam com candura desde as minhas lágrimas singelas até as torrenciais. Nas suas costas caberiam a nossa casa e nossos sonhos e se assemelhariam ao tamanho do seu coração bondoso para com o mundo que o cercasse.

Eu queria que seus dedos dedilhassem várias canções ao anoitecer na varanda e que nelas eu viajasse nas trilhas que embalaram nossas melhores lembranças. Queria também uma fé lúcida e tenra que trouxesse o céu para mais perto da gente. E de suas falas, eu queria as piadas graciosas, os contos e poesias, as palavras mais certas, as dúvidas necessárias para desvendarmos juntos.

Eu queria nossos filhos, com dois nomes e setenta por cento mais do jeitinho dele do que meu. Ao querer neles tudo isso que eu sempre quis: o amor, o amado, o amável. E dia após dia, durante todo o tempo em que eu pudesse tê-lo ao meu lado, eu o queria ali: sussurrando que me ama, bem baixinho e com aquela voz rouca, enquanto eu terminaria de recortá-lo e montá-lo na minha memória já falha e cansada, com o coração repleto de paz.

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